O Brasileiro e a sua eterna mania de diminutivos
Diminutivos - Luis Fernando Verissimo
Sempre pensei que ninguém batia o brasileiro no uso do
diminutivo, essa nossa mania de reduzir tudo à mínima dimensão, seja um
cafezinho, um cineminha ou uma vidinha. Só o que varia é a inflexão da voz. Se
alguém diz, por exemplo, "Ô vidinha", você sabe que ele está se
referindo a uma vida com todas as mordomias. Nem é uma vida, é um comercial de
cigarro com longa metragem. Um vidão. Mas se disser "Ah vidinha..." o
coitado está se queixando dela, e com toda a razão. Há anos que o seu único
divertimento é tirar sapatos e fazer xixi. Mas nos dois casos o diminutivo é
usado com o mesmo carinho.
[...]
[...]
O diminutivo é uma maneira ao mesmo tempo afetuosa e
precavida de usar a linguagem. Afetuosa porque geralmente o usamos para
designar o que é agradável, aquelas coisas tão afáveis que se deixam diminuir
sem perder o sentido. E precavida porque também o usamos para desarmar certas
palavras que, na sua forma original, são ameaçadoras demais.
"Operação", por exemplo. É uma palavra
assustadora. Pior do que "intervenção cirúrgica", porque promete uma
intervenção muito mais radical nos intestinos. Uma operação certamente durará
horas e os resultados são incertos. Suas chances de sobreviver a uma
operação... sei não. Melhor se preparar para o pior.
Já uma operaçãozinha é uma mera formalidade. Anestesia
local e duas aspirinas depois. Uma coisa tão banal que quase dispensa a
presença do paciente.
[...]
No Brasil, usa-se o diminutivo principalmente em
relação à comida. Nada nos desperta sentimentos tão carinhosos quanto uma boa
comidinha.
- Mais um feijãozinho?
O feijãozinho passou dois dias borbulhando num
daqueles caldeirões de antropófagos com capacidade para três missionários. Leva
porcos inteiros, todos os miúdos e temperos conhecidos e, parece, um
missionário. Mas a dona de casa o trata como um mingau de todos os dias.
- Mais um feijãozinho?
- Um pouquinho.
- E uma farofinha?
- Ao lado do arrozinho?
- Isso.
- E quem sabe mais uma cervejinha?
- Obrigadinho.
O diminutivo é também uma forma de disfarçar o
nosso entusiasmo pelas grandes porções. E tem um efeito psicológico inegável.
Você pode passar horas tomando "cervejinha" em cima de
"cervejinha" sem nenhum dos efeitos que sofreria depois de apenas
duas cervejas.
- E agora, um docinho.
E surge um tacho de ambrosia que é um
porta-aviões.
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